segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Eu também, estou farta.

Poética


"Estou farto do lirismo comedidodo lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunhovernáculo de um vocábulo

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais

Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceçãoTodos os ritmos sobretudo os enumeráveis

Estou farto do lirismo namorador

Político

Raquítico

Sifilítco

Do lirismo que capitula ao que quer que seja for a de si mesmo.

De resto não é lirismo

Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cemmodelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos

O lirismo dos bêbedos

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos

O lirismo dos clowns de Shakespeare

Não quero mais saber do lirismo que não é libertação"


(Manuel Bandeira)




Acho que a loucura deve vir acima de todas as outras as coisas.

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